sábado, 3 de novembro de 2007

Texto- NaDança. Mesa sobre o ensino e produção de dança para crianças.Fomento à dança Balangandança Cia. Outubro de 2007



Falar sobre o ensino de dança para crianças é abrir um leque
de possibilidades.
Mas também é a responsabilidade de saber focar e pensar num tema muito delicado.
Digo delicado no sentido real da palavra, pois temos o corpo como foco principal.

Como tratar, lidar, observar um corpo que está constantemente em desenvolvimento.
Isso já nos remete a não poder esperar de um aluno que ele tenha posturas “desejáveis”. Ou melhor: posturas-formas.
O conhecimento da dinâmica de um corpo, que envolve estrutura muscular e óssea, é muito importante. Não precisamos ser especialistas nessas áreas, mas precisamos: conhecer, estudar, trocar idéias e dúvidas com profissionais especialistas. Isso enriquece nosso olhar para o corpo como também para o movimento e consequentemente para as dinâmicas: forças que produzem o movimento.

Olhando por esse foco creio que nossos corpos também fiquem mais inteligentes.
Existe um linguagem “ invisível” numa aula de dança onde nós professores passamos muitas informações gestuais e corporais para nossos alunos.
Nossa postura deve ser natural e não imposta, pois somos espelhos. Mesmo quando fazemos demonstrações é importante estarmos com nossos corpos bem alinhados e vigorosos ( no sentido de vigor e entusiasmo com o movimento).
A cada transformação dos corpos de nossos alunos devemos desenvolver exercícios que ativem partes do corpo que estão comprometidas nesse momento. Um exemplo é quando as meninas estão com 8, 9 anos e a lombar fica mais acentuada e a musculatura ísquio tibial encurta. Nesse momento usamos informações colhidas sobre o corpo e movimento para desenvolver ações que estimulem essa musculatura e a região lombar fique menos comprometida.
Essa ação é bem diferente de tentarmos exigir uma postura que eles não estão podendo fazer nesse momento, por razões de desenvolvimento e não por incapacidade.


A expressividade.

O ato de criar é inerente ao ser humano. Todos criam e são criativos o que muda são as possibilidades que lhes foram oferecidas para desenvolver o que lhe é natural. O criar não é uma característica só da arte.
Mas se não abrimos esse espaço numa aula de dança, para a investigação, percepção e consciência do potencial criativo, não estaremos fazendo arte e sim repetição.
Existem crianças muito criativas e outras que são inibidas diante desse potencial.
Dentro de um grupo devemos saber ler essas crianças para que eles possam dialogar e compartilhar seus processos criativos e isso só pode acontecer se propomos temas de movimentos que serão compartilhados. Numa aula é importante ter seu espaço individual e o espaço compartilhado, pois só assim acontece o dialogo.


O processo da experiência é muito individual, acho difícil propor investigações de temas em grupo sem antes ter um momento individual. Pois sempre tem uma criança
que lidera a movimentação e durante a investigação pode sem querer invadir o tempo da outra.
Mesmo tendo uma aula planejada o que é muito importante devemos também nos abrir para nossos espaços criativos numa aula. É comum estarmos num momento de investigação e de repente uma criança ou mais começarem a desenvolver um movimento muito interessante e que este pode ser inserido no momento de grupo. Dizer: Nossa você fez um movimento incrível, vamos usar isso na composição?


Faz com que o processo criativo esteja sempre em movimento.
O que faz uma aula não ficar “solta” e “espontânea” é o nosso conhecimento e o que queremos num trabalho de dança para crianças.
Independente da técnica que podemos utilizar o que importa mesmo é a apropriação do movimento e sentimento da qualidade deste e esse conteúdo é a nossa responsabilidade.
Para cada faixa etária devemos ter objetivos esses serão a meta para vivenciar os obstáculos dentro das possibilidades dos alunos. Ex crianças de 4,5 e 6 anos dentro dessa escala tem uma dificuldade enorme em se concentrar. Trazer o silêncio o tempo lento, movimentos flexíveis e a experiência do contato com o chão é um grande desafio e também o nosso objetivo. A técnica da dança contemporânea nos fornece uma gama de exercícios que podemos adaptar para crianças como a estrela rolamentos enrolamentos que podem estar “vestidos” de movimentações s de animais e objetos e assim vamos criando uma nomenclatura onde podemos falar num aquecimento: tatu bola, tapete, estrela e podemos também criar uma dança alterando de várias formas essas combinações. No chão em pé sentado etc...
Já com crianças mais velhas 9 á 12 anos a dificuldade ou desafio e criar a ponte entre querer e poder. Ok vocês tem uma idéia mas para que isso possa acontecer teremos que traçar um caminho. Aí novamente teremos que lançar mão de nossos recursos criativos para propor aquecimentos que correspondam aos desafios.


Me lembro de um grupo que queria fazer um trabalho sobre deusas gregas. Uma queria ser Hera como trabalhar o tempo lento como levar á uma criança contemporânea o sentido de tempo? Lembrei de um exercício do Bob Wilson de o que podemos fazer em 1 minuto. As crianças começaram a perceber o tempo real e de como podemos preenchê-lo.

Ao longo do tempo vamos aprendendo a criar estratégias de planejamento. A cada faixa existe um desafio e esses podem ser nossos pressupostos para desenvolver o trabalho com o grupo. Esse aprendizado só acontece, pois temos as crianças como parceiras.
O método Laban como instrumento de trabalho nos faz iluminar os movimentos, nosso olhar fica objetivado na movimentação e na expressividade enfim nos fatores fundamentais para produzir dança.





2 comentários:

Lee disse...

Boa noite Uxa!!

Quero mais aulas suas no Maria Antonio, foi muito enriquecedor os encontros.
Com a correria, finalmente consegui encontrar o blog, e valeu muito, parabéns!

Eliane

NaDança- Uxa Xavier disse...

Oi Eliana obrigada viu? Como vce v~e sou um pouco demorada, mas acho que agora vou conseguir estar mais presente e ativa no blog. Comnete e divulgue para que possamos criar um espaço de trocas. abs Uxa.