terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Dança saúde e criança.

Temas e conceitos tão ligados um ao outro que fui buscar no” Aurélio” um dos significados para essa palavra ( saúde) que tanto falamos clamamos e desejamos.
Saúde “conservação da vida”.
Incrível, no meio tantos significados esse foi um presente, para iniciar esse texto
Qual a importância dessa tríade: “criança saúde e dança” para nós professores de dança?
Muito grande, pois a partir do momento que estamos trabalhando o corpo de uma criança devemos ter a responsabilidade e sensibilidade de sabermos que estamos lidando com um corpo em formação e desenvolvimento.
Tudo que fizermos numa aula ficará registrado no corpo dessa criança de uma forma bem mais profunda do que no corpo de um adulto.
As aulas devem ser planejadas pensando quem são essas crianças em que momento de seu desenvolvimento psíquico físico elas estão. Uma aula para crianças de 4 anos é bem diferente de uma para crianças de 8 anos. Reparem nos corpos de seus filhos e alunos dessa faixa etária, são totalmente diferentes. Por isso devemos estar sempre atentos ás transformações, pois elas estão lá presentes e o tempo todo.
Trabalhei ativamente com crianças por 28 anos e sempre foi comum ver nos pais duas formas de chegar ás aulas; uma por indicação de fisioterapeutas e ortopedistas que indicam aulas de dança para correções dos pés e atividades corporais mais leves ( o que é ótimo), outra por que os pais atendiam aos pedidos das crianças no seu desejo de dançar.
Se pensarmos, tanto uma como a outra está ligada a saúde, pois conhecer o corpo explorar movimentos, criar movimentações expressivas que contem histórias e traduzam sentimentos estão totalmente ligados á “conservação da vida”.
Uma criança em sala de aula recebe muitas informações, desde a cinética até a mais sensível, que está na camada de seu psiquismo, ela registra transforma e cria novas formas de se relacionar.
Um grupo é um corpo e este, deve ser tratado com respeito e sensibilidade, pois assim essas ações se ampliam nas relações exteriores dessa criança é tão comum ouvirmos dos pais: “Depois que começou a fazer a aula está mais calma (o) mais carinhosa(o) consegue abraçar e receber afetos corporais”.
A arte da dança transforma e abre portas importantes para a saúde do corpo.
Mas, nós, professores não somos terapêutas corporais.
Somos criadores e pedagogos do movimento que compartilhamos com nossos alunos a descoberta do movimento expressivo e organizado, aquela que vai contar histórias com o corpo.
Vivemos uma contemporaneidade esquizofrênica onde o vigor do corpo e do movimento vem perdendo seu espaço para as posturas e ações reduzidas das pontas dos dedos. Crianças esparramadas em sofás comandando controles remotos com uma destreza incrível, ok tudo isso faz parte, mas e o corpo total? Como fica?
Fica fraco sem tônus e intoxicado de tantas imagens, velocidades e pensamentos desconexos. Pois o corpo pede movimento ele faz parte da vida. E aí encontramos crianças altamente racionais que não sabem carregar suas malas de escola ou mesmo relacionar-se com seu próprio peso e o espaço que ocupa na vida, e assim fica comum derrubar coisas esbarrar em objetos e ser taxado de desligado, avoado e por aí vai...
A criança que não arrisca e não explora seu corpo em movimento não será uma criança saudável e depois quem sabe um adolescente desorganizado..
Quem trabalha com adultos sabe que encontramos alunos com corpos opacos pedindo ajuda para reencontrar-se em seu próprio território. E quando reencontram se transformam.
Acredito sim que através da dança podemos criar e ampliar nossa saúde corporal e psíquica. Podemos conservar a vida!

Esse texto foi publicado na Dança em revista.

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